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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Prevenção da infeção por Clostridium difficile

O estudo publicado pelo CDC no New England Journal of Medicine estima que houve 453.000 casos de infeção por Clostridium difficile (ICD) nos Estados Unidos em 2011,com uma taxa de recorrência de 10% a 30%. 

Esta revisão refere que a qualidade dos dados para apoiar recomendações de prevenção ICD são relativamente pobres e com níveis de evidência baixos.

O fator de risco mais importante para o ICD é a exposição a agentes antimicrobianos.
Aquisição de C. difficile é muito incomum no ambiente hospitalar, na ausência de uma exposição antimicrobiana recente.

Apenas alguns de estudos determinam o período de incubação da aquisição C. difficile até à ICD, mas todos esses estudos descobriram um período de incubação médio de  <7 dias. 

Os doentes sintomáticos que ainda não têm o diagnóstico, que ainda não estão a receber tratamento e que ainda não estão em precauções de contato são os que dispersam mais esporos e por isso de maior contagio. Os esporos C difficile contaminam ambiente envolvente do doente e são transferidos a outros utentes pelas mãos dos profissionais de saúde e equipamentos médicos contaminados.
Atualmente, a única maneira de evitar ICD  e a ocorrência de transmissão é uma boa gestão de antimicrobianos. Se o microbioma do cólon não for alterado por antimicrobianos, o risco de  colonização com C. difficile e desenvolvimento de ICD são muito mais baixos, mesmo com a exposição a C. difficile.
Cerca de 25% dos doentes com antimicrobianos no hospital não tem uma infeção bacteriana. Não prescrever antibióticos para esses doentes irá reduzir o risco de desenvolver ICD se ocorrer uma exposição ao  C. difficile.
Antes de prescrever antimicrobianos, em primeiro lugar determinar se o paciente tem uma infecção bacteriana que requer antimicrobianos, por exemplo:
A bacteriúria assintomática: nenhum
Infecção do trato urinário sintomática: sim;
Infecção do trato respiratório superior: não; ou
Pneumonia: sim.
Quando antimicrobianos são indicados, os estudos também descobriram que a prescrição de antimicrobianos associados a um menor risco de CDI (em vez de antimicrobianos de maior risco) pode reduzir a incidência de CDI:
http://www.cdc.gov/VitalSigns/antibiotic-prescribing-practices/
Risco elevado
Aminopenicillinas
Clindamicina
Cephalosporinas
Fluoroquinolonas

Risco mediano
Beta-lactamicos/beta-lactamase inhibidor combinações
Carbapenemes

Risco baixo
Macrolitos
Trimethoprim/sulfamethoxazole
Tetracyclinas



Para prevenir a transmissão, colocamos os doentes em isolamento de contato imediatamente na suspeita de ICD. Mas a chave para o diagnóstico rápido é a identificação de doentes com diarreia clinicamente significativa. Há estudos que mostram que o tempo médio de diarreia até o diagnóstico ICD é de 3,2 dias. Logo, só após essa identificação são tomadas as medidas de tratamento e de isolamento.
É extremamente importante o uso de água e sabão uma vez que o álcool não mata esporos C. difficile no entanto verifica-se que há contaminação das mãos que pode ocorrer pelo fato das mãos serem lavadas no mesmo lavatório utilizado pelo doente após as dejecções. No processo de utilização de água e sabão, o profissional de saúde pode realmente aumentar a contaminação das mãos.
Estes dados indicam que é mais importante destacar o cumprimento do uso de luvas uma vez que reduz a contaminação das mãos

Os esporos do C. difficile podem persistir no ambiente por meses e são resistentes a desinfetantes hospitalares comuns. Um estudo de modelação transmissão C difficile estimou que aproximadamente 10% dos novos casos de ICD estão relacionadas com a contaminação preexistente do ambiente. 

A prevenção da ICD é uma responsabilidade multidisciplinar.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

PLANO NACIONAL PARA A SEGURANÇA DOS DOENTES
2015-2020


Porque a Qualidade e a Segurança são imperativos para a melhoria dos Cuidados que Prestamos nas Unidades de Saúde foi hoje publicado o Despacho n.º 1400-A/2015 (Diário da República, 2.ª série — N.º 28 — 10 de Fevereiro de 2015) que enquadra o Plano Nacional para a Segurança dos Doentes para o período 2015-2020.

O Plano Nacional para a Segurança dos Doentes 2015-2020, visa atingir os seguintes objectivos estratégicos:
1. Aumentar a cultura de segurança do ambiente interno.
2. Aumentar a segurança da comunicação.
3. Aumentar a segurança cirúrgica.
4. Aumentar a segurança na utilização da medicação.
5. Assegurar a identificação inequívoca dos doentes.
6. Prevenir a ocorrência de quedas.
7. Prevenir a ocorrência de úlceras de pressão.
8. Assegurar a prática sistemática de notificação, análise e prevenção de incidentes.
9. Prevenir e controlar as infeções e as resistências aos antimicrobianos.

OBJETIVO ESTRATÉGICO 9
PREVENIR E CONTROLAR AS INFEÇÕES E AS RESISTÊNCIAS AOS ANTIMICROBIANOS

Metas para o final de 2020:
1) Atingir uma taxa de prevalência de infeção hospitalar de 8%.
2) Reduzir em 50% face a 2014, o consumo de antimicrobianos.
3) Atingir uma taxa de MRSA de 20%.
4) Reduzir em 50% face a 2014, o consumo de carbapenemes.
5) Reduzir em 50% face a 2014, o consumo de quinolonas.


Vale a pena analisar todo o despacho. https://dre.pt/application/file/66457154


sábado, 31 de janeiro de 2015


Prevenção da Infeção Cirúrgica


A Infeção do Local Cirúrgico (ILC) tem cada vez maior relevância no contexto das infeções hospitalares e existem alguns procedimentos que devem ser relembrados para a sua prevenção.
A ILC deve começar a ser prevenida com a antecedência necessária ao controlo de doenças associadas, como a diabetes ou o tabagismo (deixar de fumar no mínimo 30 dias antes da intervenção). Tal como na programação de uma intervenção cirúrgica deve ser acautelado a identificação de infeções e o seu correto tratamento.
No caso das cirurgias eletivas é recomendado que todos os doentes devem ser submetidos a pelo menos, dois banhos prévios à intervenção cirúrgica, com gluconato de clorohexidina a 2% (não aplicar a doentes com menos de dois meses de idade corrigida), um na véspera da cirurgia e outro no dia da cirurgia (com, pelo menos, duas horas de antecedência). Mesmo na cirurgia do ambulatório, deve ser fornecido ao doente, na consulta prévia, esponja impregnada de gluconato de clorohexidina a 2% para a realização de higiene pré-operatória em casa.
Deve evitar-se o internamento pré-operatório prolongado no sentido de evitar colonizações que aumentam o risco de infeção.
Por outro lado a tricotomia  só deve ser efetuada se imprescindível, e deve ser feita com máquina elétrica, o mais próximo possível da intervenção.
A área da incisão cirúrgica deverá estar livre de contaminação visível antes da antissepsia cirúrgica.
A administração da profilaxia antibiótica deve ser efetuada nos 60 minutos (120 minutos, no caso de vancomicina) que antecedem a cirurgia, de modo a assegurar níveis tecidulares adequados na altura da incisão cirúrgica, e deve estar completa antes da incisão.
No que se refere à preparação da pele do local da incisão esta deve ser realizada com um antissético de base alcoólica, com movimentos concêntricos, do centro para a periferia, cobrindo uma área suficientemente extensa para permitir alargamento da incisão ou colocação de drenos e deve ser permitido que o antissético seque antes da incisão

Todos os profissionais de saúde devem manter as unhas curtas, limpas, sem verniz ou adereços artificiais devendo estar completamente livres antes de iniciar a preparação cirúrgica das mãos.


Direção-Geral da Saúde (2013). Norma 024/2013 – Prevenção da Infeção do Local Cirúrgico. Lisboa. Direção-Geral da Saúde

terça-feira, 6 de maio de 2014



5 Maio de 2014

Dia Mundial da Higiene das Mãos



Está pronto para evitar a disseminação de microrganismos resistentes aos antimicrobianos? 

Esta é a pergunta lançada pela OMS e que relembra o papel da higiene das mãos na prevenção da disseminação dos microrganismos multirresistentes.
A OMS alerta os profissionais de saúde para a prática da correta higiene das mãos ao cuidar dos doentes, para protegê-los de contrair infecções associadas aos cuidados de saúde e refere por exemplo, quando o cumprimento da higiene das mãos  aumenta de 60% a 90%, pode haver uma redução de 24% na aquisição de MRSA.

http://www.who.int/gpsc/5may/en/

http://www.who.int/gpsc/5may/hand_hygiene_video/en/



terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Infeção nosocomial da corrente sanguínea de 2011

Relatório da vigilância epidemiológica das infecções nosocomiais da corrente sanguínea de 2011 foi agora (06/02/2014) disponibilizado no site da DGS

O Programa de vigilância epidemiológica (VE) das infeções nosocomiais da corrente sanguínea (INCS), coordenado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), integrado na rede nacional de VE, teve em 2011 a participação de 43 hospitais (37,6% dos hospitais do SNS) e 5 hospitais privados.
Foram estudados 266 425 doentes, correspondendo a 1 882 696 dias de internamento.
Registaram-se 2 400 episódios de INCS.
A taxa global de INCS foi de 0,87 por 100 doentes admitidos e de, 1,2 por mil dias de internamento.
Observou-se um predomínio de doentes do sexo masculino (58,5%). Dos doentes com INCS, 61,1% tinham idade superior a 60 anos, dos quais, 18,4% tinham mais de 80 anos.
Os grupos de serviços/áreas assistenciais com proporção e densidade de INCS mais elevadas foram os serviços de Hematologia e Oncologia (Pediátrica e Adultos) e as Unidades de Cuidados Intensivos (Polivalentes e outras).
Os episódios de INCS primárias corresponderam a 59,2%, incluindo 19,7% associadas ao cateter vascular central. Foram mais frequentes nos serviços de Medicina Interna, Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) polivalentes, Cirurgia Geral,  Especialidades Cirúrgicas e Hematologia e Oncologia.
As INCS secundárias a infeção noutro local corresponderam a 43,4%, sendo mais frequentes nos serviços de Medicina Interna, UCI polivalentes, Hematologia e Oncologia, Cirurgia Geral e Especialidades Cirúrgicas.
Obteve-se uma taxa de INCS associada a cateter venoso central (CVC) de 2,2 por mil dias de exposição a este dispositivo, predominantemente nos serviços de Hematologia/Oncologia (Pediátrica e Adultos), Especialidades Cirúrgicas, Medicina/Especialidades Médicas e Cirurgia Geral. Os Serviços de Pediatria Geral apresentaram uma taxa de 1% de INCS associadas a CVC.
No que se refere aos fatores de risco intrínseco, a neoplasia sólida foi assinalada em 23% dos doentes com INCS, a neutropenia em 22%, a diabetes em 14%, leucemia/linfoma em 13%, e, as restantes situações de Imunossupressão em 28% dos doentes.
Os fatores de risco extrínsecos (FRE) mais significativos para o aparecimento de INCS foram a presença de CVC, a nutrição parentérica e a hemodiálise.
As INCS secundárias tiveram origem predominantemente nas infeções urinárias e respiratórias.
A demora média nos doentes com INCS foi de 36,8 dias, contrastando com a demora média global de todos os doentes admitidos nos Serviços em estudo, que foi de 7,3 dias.
Dos doentes com episódio de INCS, 48,9% saíram com alta; 21,4% foram transferidos para outros serviços ou outras unidades de saúde e 29,7% faleceram no decurso do episódio de INCS.
A taxa bruta de mortalidade foi mais elevada nas UCI (polivalentes e Outras), Medicina Interna e Cirurgia Geral.
Foram isolados 2553 microrganismos nos 2400 episódios de INCS, dos quais, 48,6% eram Gram negativo, 46,5% eram Gram positivo e 4,6% eram fungos.
Os microrganismos predominantes foram Staphylococcus aureus, Staphylococcus coagulase negativo, Escherichia coli e Klebsiella sp., representando cerca de 60% do total de agentes etiológicos.
A taxa de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) foi de 57,7% no total das estirpes identificadas e as resistências de Acinetobacter baumannii às Cefolosporinas de terceira geração e aos Carbapenemes foram de 79,1% e 71,6% no total de estirpes.
Verificou-se ainda a existência de 4,5% de resistências à Colistina no total de estirpes testadas.
Um número apreciável (30,3% das estirpes testadas, 28,9% no total de estirpes) de Klebsiella pneumoniae, são produtoras de betalactamase de espectro extendido.

A análise das resistências foi ainda limitada, devido às variações na informaçãodisponibilizada pelos laboratórios de Microbiologia de cada Hospital aderente


Documento in: http://www.dgs.pt/programas-de-saude-prioritarios.aspx 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos

Após a fusão de dois anteriores programas, “Programa Nacional de Controlo de Infeção” e “Programa Nacional de Prevenção das Resistências aos Antimicrobianos”, em Fevereiro de 2013, é criado o   “Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos”, com carácter de programa de saúde prioritário. Com o principal objetivo a redução da taxa de infeções associadas aos cuidados de saúde, hospitalares e da comunidade, assim como da taxa de microrganismos com resistência aos antimicrobianos. Os objetivos específicos assentam na vigilância contínua da infeção hospitalar, do consumo de antibióticos e da incidência de microrganismos multirresistentes de modo a que: 
a) Número de hospitais aderentes à vigilância de microrganismos resistentes em 2014 / Número de hospitais do Sistema Nacional de Saúde em 2014 ≥ 50%.
b) DDD de consumo hospitalar de carbapenemes em 2015 / DDD de consumo hospitalar de carbapenemes em 2011 ≤ 95%;
c) DDD de consumo ambulatório de quinolonas em 2015 / DDD de consumo ambulatório de quinolonas em 2011 ≤ 95%;
d) Número de bacteriemias por MRSA por 1000 dias de internamento em 2015 / Número de bacteriemias por MRSA por 1000 dias de internamento em 2012 ≤  90%;
e) Taxa de bacteriemias por MRSA no total de bacteriemias por Staphylococcus aureus em 2015 / Taxa de bacteriemias por MRSA no total de bacteriemias por Staphylococcus aureus em 2012 ≤  90%;  
 "Orientações Programáticas" publicado em www.dgs.ptPrograma de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos