Infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS) são infeções, causadas por uma grande variedade de microrganismos, decorrentes da prestação de cuidados de saúde. Este Blog pretende reunir recomendações e noticias relevantes para a prevenção e controlo de infeção.
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domingo, 20 de março de 2016
Índice de qualidade PPCIRA - Despacho n.º 3844-A/2016
O Despacho n.º 3844-A/2016, publicado no Diário da República, 2.ª série — N.º 52 — 15 de março de 2016, do Gabinete do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde determina:
1 — A criação de um grupo de trabalho interinstitucional, que integra a Direção -Geral da Saúde, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, I. P., o INFARMED — Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I. P., e a Administração Central do Sistema de Saúde, I. P. (ACSS, I. P.).
2 — O grupo de trabalho referido no número anterior é coordenado pela ACSS, I. P.
3 — Este Grupo de Trabalho garante, até final de junho de 2016, os mecanismos que permitam obter os dados e os indicadores, por institui- ção hospitalar, relativos a consumo hospitalar de antibióticos, resistência antimicrobiana (“microrganismos problema” e “microrganismos alerta”) e IACS (pneumonia associada à ventilação, infeção relacionada com cateter venoso central em medicina intensiva, infeção da corrente sanguínea, infeção urinária associada a algália e infeção neonatal).
4 — Os dados e indicadores referidos no número anterior constituem o denominado “índice de qualidade PPCIRA”, o qual é composto pelas seguintes variáveis, em relação às quais se definem objetivos para o triénio 2017 -2019.
São dez os indicadores:
a) Consumo hospitalar global de antibióticos, medido em DDD por 1000 doentes saídos dia (objetivo: redução de 10 % ao ano);
b) Consumo hospitalar global de carbapenemes, medido em DDD por 1000 doentes saídos dia (objetivo: redução de 10 % ao ano);
c) Taxa de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) no total de Staphylococcus aureus isolados em amostras invasivas (sangue e liquor) (objetivo: redução de 5 % ao ano);
d) Taxa de Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemase no total de Klebsiella pneumoniae isoladas em amostras invasivas (objetivo: ≤ 1 %);
e) Ausência de surto de Enterobactereaceae produtora de carbapenemase nesse ano;
f) Implementação de isolamento, rastreio de doentes com pelo menos um fator de risco de MRSA, conforme Norma anti -MRSA 018/2014, de 9 de dezembro de 2014, atualizada a 27 de abril de 2015, do PPCIRA/ DGS;
g) Taxa de adesão ao feixe de intervenções (bundle) de prevenção de infeção de local cirúrgico conforme Norma 020/2015, de 15 de dezembro de 2015, do PPCIRA/DGS (objetivo: n.º de cirurgias com adesão a todas as medidas do feixe/n.º total de cirurgias > 75 %);
h) Taxa de adesão ao feixe de intervenções (bundle) de prevenção de infeção urinária associada a algália, conforme Norma 019/2015, de 15 de dezembro de 2015, do PPCIRA/DGS (objetivo: n.º de algaliações com cumprimento de todas as medidas do feixe/n.º total de algaliações > 75 %);
i) Taxa de adesão ao primeiro momento da higiene das mãos (objetivo: > 70 %);
j) Participação nos programas de vigilância epidemiológica de infeção relacionada com cateter, de pneumonia associada a ventilador, de infeção de local cirúrgico e de infeção nosocomial da corrente sanguínea (objetivo: cumprimento destas vigilâncias em pelo menos 9 dos 12 meses).
5 — As variáveis que compõem o “índice de qualidade PPCIRA” são produzidas semestralmente e disponibilizadas até ao final do mês seguinte aos Conselhos Diretivos das Administrações Regionais de Saúde, aos Conselhos de Administração dos Hospitais e Unidades Locais de Saúde e aos Grupos Coordenadores Locais do PCCIRA, competindo a estes discutir e interpretar estes dados e indicadores por instituição hospitalar, implementando as necessárias intervenções e estratégias de melhoria contínua.
6 — As entidades que compõem o grupo de trabalho interinstitucional acompanham de forma continuada a evolução do “índice de qualidade PPCIRA” nas várias instituições hospitalares e efetuam as recomenda- ções de melhoria que considerem mais adequadas.
7 — O “índice de qualidade PPCIRA” é integrado no processo de contratualização de cuidados de saúde que se encontra implementado no Serviço Nacional de Saúde, ficando associado a partir do ano de 2017 à aplicação de incentivos no âmbito dos contratos -programa estabelecidos anualmente entre as Administrações Regionais de Saúde e as instituições hospitalares, de forma a premiar as boas práticas e a melhoria da qualidade numa área crítica para a gestão hospitalar e para a segurança dos utentes.
8 — Podem ser chamados a colaborar com o Grupo de Trabalho outros elementos, a título individual ou como representantes de serviços ou organismos do Ministério da Saúde ou de outras instituições.
Despacho n.º 3844-A/2016
"Portugal - Controlo da Infeção e Resistência aos Antimicrobianos em Números 2015"
Em Portugal, assistiu-se a uma redução da incidência
de algumas infeções em 2014,
como é o caso da pneumonia associada à intubação
traqueal,
nas Unidades de Cuidados Intensivos, da bacteriemia
associada a cateter venoso central
e da infeção associada a cirurgia do cólon e
reto.
Em outros casos verificou-se um ligeiro agravamento,
como aconteceu na infeção
associada a cirurgia das vias biliares.
Registaram-se evoluções positivas no consumo de
antimicrobianos, principalmente
na classe das quinolonas, cujo consumo desceu, entre
2011 e 2014, 27% no
ambulatório e mais de 8% a nível hospitalar, mas
também uma inversão da
tendência crescente no consumo de carbapenemos,
antibióticos associados
à seleção de bactérias multirresistentes, o qual diminuiu
5% entre 2013 e 2014.
Verificou-se uma redução das taxas de resistência em
alguns microrganismos
multirresistentes, como Staphylococcus aureus
resistente à meticilina,
Enterococcus ou Acinetobacter, taxas que ainda assim
se mantém elevadas,
considerando-se fundamental a sua redução.
Caraterizada
como mais preocupante, é a situação que se verifica nas bactérias
classificadas
como Gram-negativo. Tal é o caso da resistência elevada aos antibióticos
da
classe das quinolonas, da bactéria Escherichia coli, responsável pela maior
parte
das
infeções urinárias não complicadas.
Mas
a principal ameaça é constituída pelo microrganismo Klebsiella pneumoniae
resistente
aos antibióticos da classe dos carbapenemos, já presente em todo o
Mundo.
Registaram-se surtos hospitalares de infeção por esta bactéria,
pontuais
e localizados, tendo sido implementadas medidas de contenção da sua
disseminação.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2016
Da Gestão à Melhoria da Qualidade do Cuidar. Uma Prospetiva do Enfermeiro de Controlo de Infeção
A história mostra-nos que a infeção hospitalar remonta à origem dos hospitais. Durante séculos os doentes foram tratados sem se ter em conta a nosologia de cada um. Os doentes em restabelecimento das suas situações permaneciam lado a lado com outros doentes com toda a diversidade de doenças inclusive infeciosas. As infeções disseminavam com elevada rapidez e, não raro, um doente era admitido no hospital com determinada doença e acabava por morrer de cólera, febre tifoide ou outra infeção.
Desde Semmelweiz (1847) o primeiro a demonstrar a eficácia da higiene das mãos na prevenção da infeção hospitalar, Florence Nightingale (1863) que descreveu uma série de cuidados e estratégias relacionados com os doentes e com o meio envolvente, com o objetivo de diminuir o risco de infeção hospitalar, promovendo ambientes mais limpos e orientando para a construção de hospitais estruturalmente mais adequados à intensão de aumentar a separação física entre os doentes. Passando pela introdução da penicilina por Fleming, em 1941, com pouco mais de uma década da sua utilização ao surgimento das primeiras resistências. Até às infeções, surtos e epidemias por microrganismos multirresistentes que caracterizam o estado atual das infeções hospitalares foi um pequeno passo.
Atualmente, Portugal é dos países europeus com maior taxa de prevalência de infeção hospitalar bem como de utilização de determinados antibióticos. Esta situação é particularmente relevante pelo facto das resistências das bactérias se verificarem, em sentido crescente, aos antibióticos que usualmente serviriam para as combater, restringindo as opções terapêuticas para essas infeções.
Para fazer face a esta situação, em Portugal, foi criado o PPCIRA (Programa de Prevenção e Controlo da Infeção e das Resistências aos Antimicrobianos) que resulta da fusão do anterior Programa Nacional de Controlo de Infeção com o Programa Nacional de Prevenção de Resistências aos Antimicrobianos. A este programa foi atribuído o caráter de programa prioritário que nas unidades de saúde deve funcionar em articulação com as estruturas de Segurança do Doente e da Gestão de Risco.
As estruturas de controlo de infeção das unidades de saúde em Portugal, desde 2013, que está regulamentada por despacho do Ministério da Saúde. Estas devem ser constituídas por equipas multidisciplinares com no mínimo um enfermeiro em dedicação completa, independentemente do nível de cuidados, a que acresce mais um enfermeiro por cada 250 camas adicionais.
Por outro lado, a norma para o cálculo de dotações seguras dos cuidados de enfermagem, da ordem dos enfermeiros, é explícita e indica que o enfermeiro de controlo de infeção deve ser especialista e com competências reconhecidas em controlo de infeção. Considerando as competências específicas das diversas especialidades é com a especialidade de enfermagem médico-cirúrgica que se confirmam as competências para a gestão dum programa de controlo de infeção. Este passo deve ser dado a nível nacional, regional e a nível das unidades de saúde.
O enfermeiro de controlo de infeção no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal deve ter um papel de gestor de cuidados, não só por ser o único elemento das estruturas de controlo de infeção com dedicação a tempo completo mas também pela natureza das suas tarefas e competências.
O estado atual do controlo de infeção em Portugal impõe uma necessidade de mudança do seu paradigma para uma maior eficiência da gestão do processo de saúde – doença em duas vertentes.
A primeira vertente impõe uma estratégia nacional ao nível dos sistemas de informação que permitam num único sistema a consolidação de toda a informação de vigilância epidemiológica quer de infeções, consumos de antimicrobianos quer dos perfis de resistência dos microrganismos. A atual panóplia de sistemas de informação não é eficiente por dispersar recursos. Para cada um dos processos de vigilância epidemiológica obrigatórios existe um sistema informático e metodologias diferentes, além das bases de dados locais para as restantes infeções, não permitindo ter uma visão geral do problema das infeções hospitalares nem das resistências aos antimicrobianos.
A segunda vertente passa por reconhecer ao Enfermeiro de Controlo de Infeção maior autonomia de decisão. As atividades diárias de vigilância epidemiológica, e investigação epidemiológica, conferem um acesso privilegiado às determinantes da saúde-doença, sobre as quais deve ser premente a atuação para fazer face às necessidades identificadas. É estabelecida uma análise dos resultados microbiológicos, diariamente, com uma tomada de decisão face aos mesmos. Deverá caber ao Enfermeiro de Controlo de Infeção a decisão relativamente à necessidade de efetuar rastreios de contactos (outros doentes da mesma enfermaria) e principalmente ao isolamento do doente de acordo com as vias de transmissão do microrganismo, com o próprio agente em causa e/ou condição tendo em conta os recursos disponíveis.
O trabalho integrado do enfermeiro de controlo de infeção nas equipas multidisciplinares é fundamental para assegurar Cuidados seguros e de qualidade. A prevenção e controlo de infeção e de resistências aos antimicrobianos é, atualmente, um dos pilares fundamentais dos conceitos atuais de governança clínica com um papel de melhorar a qualidade dos cuidados que prestamos no Serviço Nacional de Saúde.
Já, Séc. IV ac, Hipócrates fazia referência à necessidade de tratar os doentes sem lhes fazer mal. Tal como atualmente, a melhoria da qualidade no cuidar é um imperativo.
O estado atual do controlo de infeção em Portugal impõe uma necessidade de mudança do seu paradigma para uma maior eficiência da gestão do processo de saúde – doença em duas vertentes.
A primeira vertente impõe uma estratégia nacional ao nível dos sistemas de informação que permitam num único sistema a consolidação de toda a informação de vigilância epidemiológica quer de infeções, consumos de antimicrobianos quer dos perfis de resistência dos microrganismos. A atual panóplia de sistemas de informação não é eficiente por dispersar recursos. Para cada um dos processos de vigilância epidemiológica obrigatórios existe um sistema informático e metodologias diferentes, além das bases de dados locais para as restantes infeções, não permitindo ter uma visão geral do problema das infeções hospitalares nem das resistências aos antimicrobianos.
A segunda vertente passa por reconhecer ao Enfermeiro de Controlo de Infeção maior autonomia de decisão. As atividades diárias de vigilância epidemiológica, e investigação epidemiológica, conferem um acesso privilegiado às determinantes da saúde-doença, sobre as quais deve ser premente a atuação para fazer face às necessidades identificadas. É estabelecida uma análise dos resultados microbiológicos, diariamente, com uma tomada de decisão face aos mesmos. Deverá caber ao Enfermeiro de Controlo de Infeção a decisão relativamente à necessidade de efetuar rastreios de contactos (outros doentes da mesma enfermaria) e principalmente ao isolamento do doente de acordo com as vias de transmissão do microrganismo, com o próprio agente em causa e/ou condição tendo em conta os recursos disponíveis.
O trabalho integrado do enfermeiro de controlo de infeção nas equipas multidisciplinares é fundamental para assegurar Cuidados seguros e de qualidade. A prevenção e controlo de infeção e de resistências aos antimicrobianos é, atualmente, um dos pilares fundamentais dos conceitos atuais de governança clínica com um papel de melhorar a qualidade dos cuidados que prestamos no Serviço Nacional de Saúde.
Já, Séc. IV ac, Hipócrates fazia referência à necessidade de tratar os doentes sem lhes fazer mal. Tal como atualmente, a melhoria da qualidade no cuidar é um imperativo.
domingo, 1 de novembro de 2015
Vacine-se contra a gripe
A vacinação contra a gripe é muito importante para reduzir a possibilidade de ficar doente, de faltar ao trabalho e de contagiar outras pessoas.
Não se esqueça.
Não se esqueça.
terça-feira, 20 de outubro de 2015
domingo, 18 de outubro de 2015
Controlo de Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemases: O papel da gestão clínica
A propósito do artigo de Delory (AJIC; October 1, 2015Volume 43, Issue 10, Pages 1070–1075) realça-se que as Enterobacteriaceae (CPE) Produtoras de carbapenemase são uma preocupação imediata para as políticas de controlo de infeção. A sua detecção rápida na admissão às unidades de saúde é crucial para travar a propagação de um surto.Os autores relatam um cluster de 13 casos de Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) -2- num hospital terciário. O objetivo deste estudo foi identificar fatores que contribuiram para a origem do surto.
Métodos
A investigação do surto foi realizada utilizando epidemiologia descritiva, observação das práticas de cuidados de saúde, e entrevistas com o pessoal. Foi realizada a análise de causa raiz para identificar causas e falhas latentes nas medidas de controlo de infeção, utilizando a associação de litígios e métodos de gestão de risco.
Resultados
A causa principal do surto foi o atraso na identificação de KPC-2-. Os fatores contribuintes estavam relacionados com o trabalho e com fatores ambientais: falta de pessoal, a falta de protocolos pré-definidos, características do pessoal e fatores dos doentes.
Falhas latentes foram as seguintes: nenhuma promoção das diretrizes nacionais para a prevenção da transmissão do CPE, nenhum procedimento claro para doentes transferidos de outras unidades, nenhuma iniciativa clara para a promoção de uma cultura de qualidade no hospital, produtos biológicos encaminhados para um laboratório privado e má comunicação entre os membros do hospital.
Conclusão
A gestão clínica deve ter um papel mais ativo para controlar surtos de infeção hospitalar e deve incluir o trabalho em equipa e a promoção duma cultura de segurança.
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